Mil Golpes: Uma Série que Dá Socos na História e na Modernidade


Criada por Steven Knight (Peaky Blinders), a série estreou em 2025 com impacto imediato, conquistando 90% de aprovação no Rotten Tomatoes e garantindo uma segunda temporada confirmada antes mesmo do fim da primeira — raro sinal de confiança dos estúdios e do público. Ambientada no East End londrino de 1880, a trama mistura ficção e realidade para explorar temas como racismo, imigração e poder feminino, tudo envolto em uma estética crua e coreografias de luta que deixam o espectador sem fôlego. Com Stephen Graham, Erin Doherty e Malachi Kirby liderando um elenco impecável, Mil Golpes não é apenas uma série assistível — é uma experiência visceral que exige atenção e provoca reflexão.


Golpes Certeiros e Alguns Tropeços

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Virtudes:

– Ritmo Implacável: A trama de Mil Golpes avança como uma luta de rua — rápida, violenta e sem piedade. Os seis episódios não perdem tempo com exposição desnecessária, mergulhando direto nos conflitos entre Hezekiah Moscow (Malachi Kirby), um imigrante jamaicano em busca de dignidade, e Sugar Goodson (Stephen Graham), um lutador veterano que domina os ringues ilegais.

– Temas Atuais em um Contexto Histórico: Racismo, imigração e poder feminino são abordados sem didatismo. A gangue Forty Elephants, liderada por Mary Carr (Erin Doherty), rouba a cena com sua astúcia e ambição, mostrando mulheres que não se encaixam nos estereótipos da época.

Defeitos:

– Diálogos Expositivos: Algumas cenas iniciais soam artificiais, como se Knight não confiasse totalmente no público para captar as nuances.

– Licença Poética Excessiva: Embora baseada em figuras reais, a série toma liberdades históricas — como o triângulo amoroso entre Mary, Hezekiah e Sugar, que parece mais conveniente do que orgânico.


Um Trio Imbatível

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Stephen Graham como Sugar Goodson: Graham transforma um lutador rancoroso em uma figura trágica. Seus olhares carregados de ódio e vulnerabilidade revelam um homem preso entre a glória passada e o medo da irrelevância.

Erin Doherty como Mary Carr: A ex-atriz de The Crown entrega uma performance eletrizante. Mary não é uma heroína — é uma sobrevivente que usa inteligência e crueldade para subir em um mundo masculino.

Malachi Kirby como Hezekiah Moscow: Kirby traz uma mistura de inocência e ferocidade. Seus socos no ringue doem, mas é sua luta silenciosa contra o racismo que fica gravada.


Londres como Personagem

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A série brilha nos detalhes técnicos:

– Cenografia Imersiva: As ruas lamacentas do East End contrastam com a falsa elegância do West End, reforçando a divisão de classes.

– Coreografias de Luta Brutais: Os combates de Mil Golpes são filmados com crueza, sem cortes frenéticos. Cada soco parece real, graças ao treinamento intenso do elenco.

– Iluminação Expressionista: Cenas noturnas são pintadas com tons de gás e névoa, criando um clima de perigo constante.


Poder, Sobrevivência e Identidade

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– Poder: Sugar domina o ringue, Mary comanda as ruas, e Hezekiah desafia ambos — mas nenhum controla seu destino em uma sociedade que os vê como descartáveis.

– Moralidade Ambígua: Não há vilões ou heróis claros. Até os personagens mais brutais têm motivações compreensíveis.

– Tradição vs. Modernidade: O boxe sem luvas está morrendo, assim como o patriarcado — e ambos resistem com unhas e dentes.


Uma Série que Deixa Marcas

Cercada de temas delicados como racismo, misoginia e segregação social, Mil Golpes é mais que um drama histórico — é um espelho de conflitos que ainda ecoam hoje. A série transcende o rótulo de “série de época” para se tornar um comentário social afiado, disfarçado de drama histórico. Seus méritos são inegáveis: atuações poderosas (com Stephen Graham e Erin Doherty roubando a cena), uma direção que equilibra poesia e brutalidade, e temas que ecoam fortemente no século XXI, como a luta contra o racismo e a ascensão de mulheres em espaços dominados por homens.

No entanto, a série não é imune a falhas. Alguns diálogos soam expositivos demais, e certas liberdades históricas — como o triângulo amoroso entre Mary, Hezekiah e Sugar — podem frustrar puristas. Ainda assim, esses tropeços são ofuscados pela força da narrativa e pela imersão que a produção oferece. A confirmação da segunda temporada só aumenta a expectativa: se Knight mantiver o mesmo nível de qualidade, Mil Golpes tem tudo para se consolidar como um clássico moderno, ao lado de obras como Peaky Blinders e Taboo.

Nota do IMDb: 8.2/10

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