Adolescência: Um Retrato Cru da Culpa e da Juventude em Crise


Uma minissérie que mergulha nas entranhas da adolescência problemática, questionando até onde a responsabilidade parental encontra a justiça — e como a sociedade alimenta monstros sem perceber. Inspirada em casos reais que chocaram o mundo, a produção da Netflix não apenas expõe a violência juvenil, mas também dispara um alerta sobre a cultura incel e a toxicidade das redes sociais, que transformam conflitos íntimos em espetáculos coletivos. Com uma estrutura ousada e um elenco que não teme mergulhar no desconforto, Adolescência é um soco no estômago que desafia o espectador a não desviar o olhar.


Um Jovem Protagonista que Carrega o Peso do Mundo

Adolescência


Owen Cooper, no papel do adolescente de 13 anos acusado de homicídio, entrega uma atuação intensa e desconcertante. Seu olhar vazio durante os interrogatórios, contrastando com explosões de raiva em momentos de confronto, revela uma complexidade rara para um ator tão jovem. Já os pais, interpretados por nomes como Stephen Graham (um dos criadores da série) e Christine Tremarco, oscilam entre a negação e a culpa, em performances que beiram o exagero em certos diálogos, mas funcionam para transmitir a desorientação de quem não reconhece o próprio filho. O elenco secundário, composto por professores e autoridades, mantém a tensão, embora alguns personagens pareçam pouco desenvolvidos, servindo apenas como gatilhos para o conflito central.


O Plano Sequência como Espelho da Realidade

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A escolha de filmar cada um dos quatro episódios em um único plano sequência é, ao mesmo tempo, virtude e defeito. A imersão é imediata: uma cena de confronto familiar, por exemplo, segue os personagens em movimentos contínuos que amplificam a claustrofobia do lar desmoronando. No entanto, a técnica exige ritmo perfeito, e há momentos em que o diálogo se arrasta, tornando a narrativa repetitiva. A fotografia, por outro lado, é impecável: tons frios predominam nas cenas externas, enquanto luzes amareladas dentro de casa simbolizam a falsa segurança do lar.


Entre a Moralidade e o Colapso Familiar

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A série não poupa o espectador ao explorar temas como a falência do sistema de justiça juvenil e a hipocrisia da sociedade moderna, que tanto romantiza quanto demoniza a adolescência. Um diálogo impactante, em que um professor questiona: “O que vocês esperavam? Crianças não viram monstros do nada” , sintetiza a crítica à negligência coletiva. A trama também aborda o poder das redes sociais, mostrando como um crime adolescente vira espetáculo público, corroendo a privacidade da família.

Nesse ponto, fica evidente a ineficácia do sistema de justiça ao retratar a burocracia lenta e a falta de apoio psicológico ao protagonista, evidenciando como instituições falham em lidar com crimes cometidos por menores. Um exemplo é a cena em que o policial prioriza a exposição midiática do caso em vez de analisar o histórico de bullying sofrido pelo adolescente, refletindo casos reais de espetacularização da violência. A produção questiona ainda a idade penal, colocando em xeque se punir um jovem sem reabilitá-lo resolve o ciclo de violência.


Intensidade versus Exaustão

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A força de Adolescência está na ousadia de sua estrutura e história impactante, que não oferece respostas fáceis. Contudo, a falta de nuances em personagens secundários e o excesso de cenas alongadas (como uma discussão de 15 minutos em plano fechado) podem cansar quem busca ritmo mais ágil. A trilha sonora, minimalista, acerta ao usar silêncios incômodos, mas perde oportunidades de aprofundar a atmosfera opressiva.

O roteiro conecta diretamente os atos violentos do protagonista à sua exposição a fóruns online que incentivam o ódio às mulheres, um reflexo da cultura incel. Cenas de bullying virtual, como um vídeo viral em que colegas ridicularizam sua aparência, são intercaladas com posts misóginos em seu perfil secreto, mostrando como a internet alimenta sua raiva. A série também critica a passividade dos pais, que ignoram os alertas de professores sobre seu comportamento, destacando a falha na socialização digital de jovens, resultado de uma negligência parental.


Um Soco no Estômago com Gosto de Quero Mais


Adolescência não é uma série para espectadores confortáveis. Ela arranca a máscara da hipocrisia adulta, revelando como a negligência e a falta de diálogo empurram jovens para o abismo. Com atuações cruas e uma direção que sufoca o espectador, a produção expõe feridas sociais sem oferecer curativos fáceis. O elenco, especialmente Owen Cooper, carrega o peso de uma geração silenciada, enquanto a narrativa desafia a romantização da juventude. Apesar de momentos arrastados, a minissérie é um golpe certeiro no coração da sociedade moderna. Uma obra que incomoda, mas ecoa muito além dos créditos finais.

Nota IMDb: 8.1/10.

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