No palco cintilante, porém traiçoeiro, da alta sociedade nova-iorquina, a minissérie A Melhor Irmã (The Better Sister), uma das apostas do Prime Video para 2025, desenrola um novelo de suspense psicológico que captura o espectador implacavelmente. A trama se inicia com a brutal quebra da normalidade: um assassinato que estilhaça a vida aparentemente perfeita de Chloe Taylor (Jessica Biel), forçando-a a reencontrar sua irmã afastada, Nicky (Elizabeth Banks). Este evento catalisador não apenas desenterra segredos familiares há muito sepultados, mas também expõe as complexas e, por vezes, dolorosas teias que conectam e repelem as duas irmãs. A série se propõe a ser mais do que um simples “quem matou?”; é uma exploração visceral das dinâmicas familiares, do peso esmagador das aparências e da escuridão que se aninha sob o verniz do privilégio.
Entre o Clichê e a Tensão: A Arquitetura Narrativa

A estrutura narrativa de A Melhor Irmã adota uma fórmula reconhecível no universo dos thrillers de luxo, mas o faz com uma competência que justifica a familiaridade. O assassinato de Adam (Corey Stoll), o marido advogado de Chloe, funciona como a pedra angular que desestabiliza o castelo de cartas da família. Ao longo de seus oito episódios, a série constrói uma teia de suspeitas e revelações graduais, ideal para o consumo em maratona. A tensão é habilmente sustentada, com reviravoltas que, embora nem sempre revolucionárias, mantêm o interesse aceso. A introdução de Nicky, a irmã “ovelha negra”, é um trunfo narrativo significativo. Sua presença caótica e imprevisível injeta uma dose vital de conflito e humanidade na atmosfera frequentemente asséptica da elite, servindo como um contraponto fascinante à rigidez controlada de Chloe.
Contudo, a série não está imune a tropeços. Ocasionalmente, a trama se apoia em clichês do gênero – a fachada perfeita que ruí, os detetives idiossincráticos, a onipresente sensação de que nada é o que parece. Embora eficazes em manter o ritmo, esses elementos podem soar repetitivos para espectadores assíduos de produções similares. A exploração do passado conturbado das irmãs e da natureza abusiva do relacionamento de Adam, embora essenciais, por vezes carecem de uma sutileza maior, recorrendo a diálogos ou situações um tanto expositivas. Apesar disso, a série se destaca ao criar uma atmosfera de desconforto palpável, transcendendo a mera crítica social para explorar as complexidades psicológicas das relações fraternas e conjugais em um ambiente de alta pressão, onde a verdade é uma moeda de troca perigosa.
Duelo de Titãs: As Atuações de Biel e Banks

O verdadeiro motor de A Melhor Irmã é a interação eletrizante entre suas protagonistas. Jessica Biel personifica Chloe com uma precisão calculada, transmitindo a fachada de controle e a angústia reprimida de uma mulher que luta para manter as aparências enquanto seu mundo desmorona. Sua performance captura a rigidez defensiva de Chloe, embora pudesse, em momentos-chave, explorar uma vulnerabilidade mais crua para aprofundar ainda mais a personagem. Ela é a imagem da perfeição fraturada, uma representação da pressão sufocante para corresponder a um ideal inatingível.
Em um contraste vibrante, Elizabeth Banks entrega uma performance magnética como Nicky. Ela encarna a irmã marginalizada com uma energia crua e imprevisível, navegando entre o sarcasmo, a fragilidade exposta pelo vício e uma lealdade protetora surpreendente. Banks domina cada cena em que aparece, conferindo a Nicky uma complexidade que vai além do estereótipo da “irmã problema”. A química entre Biel e Banks é inegável, sustentando a carga emocional da série. Suas interações são carregadas de ressentimentos antigos, amor distorcido e a história não contada de uma irmandade marcada por segredos. Corey Stoll, como Adam, constrói eficazmente a imagem do marido charmoso cuja máscara cai para revelar um manipulador abusivo, ainda que sua capacidade de sedução possa gerar questionamentos. O elenco de apoio, incluindo Kim Dickens como a detetive determinada e Maxwell Acee Donovan como o filho adolescente apanhado no fogo cruzado, oferece suporte sólido, embora alguns personagens secundários permaneçam subdesenvolvidos.
Estética da Frieza: Direção e Fotografia

Visualmente, A Melhor Irmã opta por uma estética que espelha seu conteúdo: elegante, fria e com uma superfície polida que mal consegue conter a tensão subjacente. Sob a direção inicial de Craig Gillespie, a série estabelece um tom que evita a glorificação do luxo. Os ambientes são frequentemente minimalistas, quase estéreis, transmitindo uma sensação de isolamento emocional que contrasta com a opulência material. A cinematografia emprega uma paleta de cores sóbria e uma iluminação que favorece as sombras, criando uma atmosfera constante de suspense e prenúncio. Cada espaço parece conter segredos, cada silêncio parece pesado de significado. A trilha sonora complementa essa abordagem, intensificando a angústia sem ser intrusiva. Embora tecnicamente competente, a produção não busca inovar visualmente, permanecendo confortavelmente dentro das convenções do gênero, o que pode ser interpretado tanto como segurança quanto como falta de ambição artística.
Sob a Lupa: Personagens e Temas Centrais

A série aprofunda-se na psique de suas personagens principais. Chloe é um estudo sobre a busca pela perfeição como mecanismo de defesa, uma tentativa de controlar o incontrolável, resultando em isolamento. Nicky representa a aceitação relutante das próprias falhas, encontrando uma forma de força em sua vulnerabilidade. A dinâmica delas explora rivalidade, culpa, perdão e a complexidade dos laços familiares. Adam, o catalisador morto, personifica a toxicidade que pode se esconder sob a máscara da respeitabilidade, e sua ausência presente impulsiona a jornada de autoconhecimento das irmãs.
Tematicamente, A Melhor Irmã aborda questões de poder – social, financeiro e interpessoal – e como ele corrompe e distorce relacionamentos. A moralidade é apresentada como fluida e situacional, com personagens constantemente navegando em zonas cinzentas. A série também tece um comentário sobre a natureza performática da vida contemporânea, a pressão por uma imagem curada e a inevitabilidade das rachaduras que surgem sob pressão. É uma análise da fragilidade humana por trás das fachadas, sejam elas mansões luxuosas ou sorrisos forçados.
Veredito Final
A Melhor Irmã não reinventa a roda do thriller psicológico de elite, mas executa sua proposta com notável competência e um elenco estelar que eleva o material. As performances magnéticas de Jessica Biel e, especialmente, Elizabeth Banks, ancoram uma trama repleta de segredos, mentiras e tensão familiar. Apesar de alguns clichês e personagens secundários menos explorados, a série consegue prender a atenção com sua atmosfera sombria, ritmo ágil e exploração das complexidades morais e psicológicas de seus personagens. É uma maratona viciante que satisfará os fãs do gênero, oferecendo uma reflexão pertinente sobre as aparências e as verdades desconfortáveis que elas escondem.
Nota do IMDb: 6.9/10
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